Vivendo no cativeiro

Uma mulher com os seios nus, uma provável peixeira das margens do Sena ou uma deusa grega que conduz o povo. Esta é uma das mais conhecidas representações da Liberdade. Uma representação da Liberdade foi pintada por Eugéne Delacroix, em 1830,para dar visualidade a Revolução de Julho de 1830. Pensar na palavra “liberdade” é pensar na obra “A Liberdade Guiando o Povo” (fr. La Liberté guidant le peuple. Todos desejamos uma liberdade que nos guie, nos indique o caminho para a vitória, para as conquistas, para a independência (afetiva, financeira, espiritual, mental, etc.).

Vivemos realmente em liberdade? Para Zygmunt Bauman (1925), na obra “A Liberdade”, somos livres para buscar nossos objetivos, mas também somos livres para errar. Tudo o que fizermos é da nossa própria responsabilidade.

No filme “Thelma and Louise” (Ridley Scott, 1991) temos duas mulheres que desejam respeito, afeto, companheirismo, educação (vinda dos homens que fazem gestos obscenos). Um filme que se desenrola na estrada (road movie), que tem um caminho não traçado. A liberdade de Thelma e Louise está no limiar de seus desejos. Porém, o fim do caminho, o abismo, não é o fim... É a liberdade plena alcançada à duras penas. Liberdade é abrir os braços e tentar alcançar o infinito, ou o México. No entanto, a liberdade guiou Thelma e Louise para o abismo.

 

Para uma pessoa ser livre tem haver pelo menos duas. A liberdade pressupõe uma relação social, [...]. Se ser livre significa poder ir seja para onde for, significa também que há pessoas que estão presas à sua casa e a quem é negado o direito de se deslocarem livremente. Se ser livre significa soltarmo-nos das amarras e das obrigações ou do trabalho e dos deveres morais, isto faz sentido graças os outros que estão amarrados, que suportam obrigações, que trabalham e têm deveres (BAUMAN, 1989, p. 22).

 

 

Thelma e Louise não foram presas, não ficaram atrás das grades, cativas. Elas não negociaram suas liberdades, pois sabiam que “ser cativo” não dependia de nenhuma grande, cela, cadeia. O cativeiro era a vida que levavam, a sociedade na qual viviam, sem justiça, machista, mesquinha. O mundo de Thelma e Louise era um cativeiro.

Enquanto Thelma e Louise se lançaram a liberdade (abismo) por acharem que haviam vivido o suficiente em poucos dias. Nós, personagens reais, estamos acorrentados em nossas regras sociais, culturais, políticas, etc. Temos medo à liberdade, pois não sabemos onde estão as grades de nossas jaulas. É mais seguro estar acorrentado do que ser livre (KAFKA).

 

BAUMAN, Zygmunt. A Liberdade. Lisboa: Editora Estampa, 1989.

QUINN, Daniel. Ismael: um romance da condição humana. São Paulo: Peirópolis, 1998.

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