“Se soubéssemos o que estávamos fazendo, não seria chamado de pesquisa, seria? ”

 

Albert Einstein (A janela de Euclides, Leonard Mlodinov, 2010).

Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir — é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.

Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção — isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos.

Esta madrugada é a primeira do mundo. Nunca esta cor rosa amarelecendo para branco quente pousou assim na face com que a casaria de oeste encara cheia de olhos vidrados o silêncio que vem na luz crescente. Nunca houve esta hora, nem esta luz, nem este meu ser. Amanhã o que for será outra coisa, e o que eu vir, será visto por olhos recompostos, cheios de uma nova visão.

Altos montes da cidade! Grandes arquiteturas que as encostas íngremes seguram e engrandecem, resvalamentos de edifícios diversamente amontoados, que a luz tece de sombras e queimações — sois hoje, sois eu, porque vos vejo sois o que amanhece [?] e amo-vos da amurada como um navio que passa por outro navio e há saudades desconhecidas na passagem.

 

Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982, p.  101.

A Necessidade da Arte, de Ernst Fischer.

 

 

 

 

"A arte do nosso tempo é ruidosa, com apelos ao silêncio" (Susan Sontag, A Vontade Radical)


Balzac ( prefácio de "Une Fille d'Ève: scène de la vie privée"):

 

Não há no mundo nada que saia de um bloco único, tudo nêle é mosaico. Não se pode contar cronologicamente senão a história do tempo passado, sistema inaplicável a um presente que progride.

 

(Il n'y a rien qui soit d'un seul bloc dans ce monde, tout y est mosaïque. Vous ne pouvez pas raconter chronologiquement que l'histoire du temps passé, système inapplicable à un present qui marche).

"Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho".  (Halbwachs)

Citação presente na obra "Memória e sociedade - lembranças de velhos" (BOSI, Ecléa. 1994, p. 55)

 

Robert Bresson (cineasta francês):

 

“Para mim, há algo que torna o suicídio possível - nem mesmo possível, mas absolutamente necessário: é a visão do vazio, o sentimento de vazio que é impossível de suportar”. (For myself, there is something which makes suicide possible — not even possible but absolutely necessary: it is the vision of the void, the feeling of void which is impossible to bear)

 

Dica de filme de Bresson: Le diable, probablement (1977)